sábado, 24 de novembro de 2012

DE VAGO CAPIM CHEIROSO


de vago capim cheiroso
um poema mosto.
moço, que tens na cesta
que ora debruças por esta renda?
trazes coqueluches de marselle
e despejas riquezas em pratos limpos.
moça, que tens nas rendas
que ora guardas por esta cesta?
são peças raras, mil oferendas
de centopeias e amores bestas.
©leoniaoliveira

sábado, 3 de novembro de 2012

AUTO RETRATO II

minha timidez,


quem a descobre?

se sou feito um sino

com badalo de cobre

e bato as horas

e conto o tempo

e corro moinho e catavento.

mas quem chegar perto

e não tiver medo da minha

quase séria distância,

quem souber entrar

delicadamente

nota:

uma nota si,

um tom bemol,

um sustenido maior;

este som de golfinho

que acompanha meu ritmo

e o canto que as baleias emprestam

para comunicar o infinito.

modo meu, treinado cedo

para palcos e poesias...

não sou a personagem muda em cena

sou a cômica.

rir é mais fácil para os tímidos.



©leoniaoliveira

PEQUENO CANTO DE SEDUZIR ESTRELAS

deve ser porque


tenho uma sensação de barco

que penso que as estrelas

podem ser cantadas

sem compromisso outro

que não seja o canto.

um vazio-largo que se me apodera

nos brancos descritos

pelas cartas náuticas.

uso o meu veleiro

como leme e como vela

e como rede a pescar estrelas.

sendo no céu seus paradeiros,

deito no mar a linha alfabética.

se são elas sereias boas

a nos confundir com sua luminosidade

possuo a prosa e todas as letras combinadas

para lhes atrair o olhar.

não há necessidade de desnudá-las

para lhes perceber a existência.

não há necessidade de condená-las

para lhes observar a luz.

não há mesmo necessidade da poesia

para descrevê-las. nem mesmo o canto é preciso.

não há necessidade do disfarce do escuro

para lhes notar o brilho

aos que percebem estrelas como eu.

©leoniaoliveira (all rights reserved in TRIGO)