terça-feira, 30 de outubro de 2012

DIÁLOGO ENTRE ARTEMIX E ARIADNE

Artemix: A amargura que carregas é teu escudo. Teces com ela a própria mortalha. Não
quero te iludir e não te iludo, mas em mim existe uma outra malha. Se não queres combater, não há combate. Mas nada impedirá que eu a mate. Pois embora não conheça o teu instinto, conheço bem o instinto que me guia, e se sou generosa em um dia no outro já não posso sê-lo. Se com uma mão abrando a agonia, com a outra distribuo o desespero. Se a quem aqui me trouxe eu causo alegria, a ti deve restar o pesadelo.

Ariadne: Assim é o instinto da aranha: quando tece é artista, quando captura é carrasco.
Mas se existe em teu peito tal barganha, se compensas o bem que causas com o mal que necessitas, se em ti não causa asco o coração que te acompanha ou, se antes, a ti não causa repúdio ser a própria aranha, ter dela a fibra te constituindo as veias, em mim a desilusão é tanta ao saber que quem, um dia, lutou contra o que o destino lhe dizia, com tal luta preparou a tua ceia. Se me vences ou eu desisto, a mim a sorte deste jogo é alheia. Bem pior ainda é o castigo de ter que levar comigo o fio que me armou a nossa teia.

(Leonia Oliveira in O FIO DE ARIADNE
http://www.portalescritor.com.br/lermais_materias.php?cd_materias=955&friurl=:-O-FIO-DE-ARIADNE--Leonia-Oliveira-: )

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