terça-feira, 18 de dezembro de 2012

FANFARRAS, PÍFAROS E CONTRABAIXOS



Meu coração é uma fanfarra
Com seus chocalhos e repiques,
Cornetas que alardeiam minhas faces
E zabumbas que trovejam a minha voz
Em cantos doces, em caixas de guerra,
Em pratos e surdos.
Ele não desfila em serviços militares,
Nem faz as honras em comemorações cívicas,
Cambaleoteia tocando e fazendo coreografias,
Mas ao simples apito do guarda de trânsito,
Descompassa.

Meu coração é uma banda de pífaros
Com sete orífícios circulares
Bombando músicas e poemas
E também a prosa em trocadilho
Com o tarol e se alguém canta uma canção nefasta
Se algum badalo de gado soa,
Meu coração descompassa.

Meu coração é uma orquestra sinfônica
E sente todos os holofotes,
De todos os instrumentos da orquestra é
Mais meu coração o holofote
Que empresta a luz para mostrar a orquestra.
Uma luz solista, de violinos e pianos,
De que valeria a orquestra sem que uma luz
Lhe fosse o dínamo da apresentação em noite de gala?
Meu coração maestro também
Não sabe viver sem que lhe dirijam os holofotes
E se alguém ameaça redirecionar a luz
Meu coração distoa.

Meu coração é a bateria de uma escola de samba,
Um imenso mar de ritmos e também
É o samba enredo e o carnavalesco
Que constrói os mitos
Que projeta estrelas
Por uma noite,
Embora a madrinha desta bateria não veja que só existe por que meu coração
Traz o enredo, o samba, o ritmo
Se alguém colocar algum obstáculo para alcançá-la,
Meu coração erra na paradinha
E o samba desanda. 
De que servirão os adereços das estrelas, então, nos outros dias?

De fato, meu coração não é mais que uma banda de Jazz
E só sabe tocar uma música,
Toca em todos os tons de jazz a mesma música
E todos pensam se tratar de músicas diferentes,
Mas é a mesma.
Ele tem a fidelidade do meu nome.Uma fidelidade leonina.

Meu coração tem medo que lhe tirem o som
Que lhe acordem,
Que lhe digam que um coração não pode ser
Uma fanfarra, uma orquestra, uma harmonia,
Que consigam lhe provar esta impossibilidade.
Penso mesmo que ele projeta um mundo
E como não sabe falar 
Empresta-me esta  poesia para explicá-lo.

Esta poesia dói, porque meu coração é um trio de chorinho neste momento.
Pode-se notar os cortes que nele se abrem e a vontade que ele tem
De continuar fornecendo luz,
De ser o neon do cavaquinho,
E a vontade que ele tem de apagar a luz,
Porque sabe como encerrar o show.

E ele, é bom que se diga,  empresta sons
E consegue anulá-los se se sentir usado.


Acho que meu coração é um contrabaixo.

©leoniaoliveira

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