domingo, 27 de janeiro de 2013

MILHO


Eu sou o milho
E canto uma canção de raiva
Uma canção calçada em uma sinfonia
De metralhadoras.
Olho pros milharais e vejo
A condição de segunda espécie
A que tentam me relegar
E os milharais condicionados a não conhecerem a sua história
Nem se dão conta
Do que são
E, mesmo a sabendo, não poderiam lutar.

Eu sou o milho e canto uma canção de ódio
Deste  aparente desprezo
Que a civilização quer me dar.
Eu entrei na carne do homem
E compus os maias
Eu sou o milho e canto uma canção pagã.
De tanto conviver com a humanidade
Tenho dela o mais comum dos desejos:
Quero que alguém pague pela minha dor
Não fui eu o Cristo na última ceia,
Eu sou o Cristo servido na ceia.
Dos traidores.
Mas não canto a canção de Cristo
Canto a canção dos Fariseus
A canção que quer se vingar
Pela colheita que se perdeu.

Eu sou o milho
E canto uma canção de fome e barro
Da fome que atinge
Aos que são ultrajados
Do barro que macula
A minha raiz.
Nem mesmo quando verde ou pequeno sou poupado
A tudo de mim consomem,
Mesmo meu esqueleto quando seco ainda queimam
E fazem fantoches com as minhas palhas...
Eu sou o milho e
Canto uma canção de fome.


Fui feito para cantar a canção dos que são usados
Dos que servem por ignorância,
Medo
Ou escravidão.

Não posso modificar meu DNA,
Minha genética é carnificinada pela humanidade
Para que eu seja o milho,
A experiência.

Eu sou o milho
E canto uma canção de dor
Dos que se sentem traídos
Pela sua própria criação.


©leoniaoliveira (all rights reserved in TRIGO)

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