domingo, 3 de fevereiro de 2013

COMBOIO


Há moças em comboios,
Sabotadas por seus pais.

Este trem passa ligeiro
Não há carinho
Em seus trilhos
E, se acaso deste abuso,
Tiveram filhos
Que filhos seus filhos terão?

Há moças em ventanias
Jogadas por suas mães.

Esta ventania é suja
Entra areia no olho
E os olhos de suas mães
Nunca quiseram ver
Ou gostavam do que viam.
Que mãe seriam as mães destas filhas?

Há moças em vilarejos
Trancafiadas por seus parentes.

Este vilarejo dá arrepio
Tem um segredo aberto
Numa vala de água podre
E na vala estão os parentes,
Bebendo da água podre,
Usando macacões de ferro
Para calar-lhes a boca.
Que parentes seriam parentes
De moças trancafiadas?

Há moças na correnteza
Afogadas por seus irmãos

E esta correnteza não possuiu barulho
Corre rápida,
Impetuosa,
Volumosa
E se as moças acaso falam
A correnteza lhes afoga a voz.
Que irmãos teriam irmãos
De moças com bocas surdas?

Há moças deitando nos trilhos
Postadas por suas mães

Cortando as pernas os trilhos,
Cortando os cabelos os trilhos,
Cortando os sonhos os trilhos,
Cortando a mentira de ser filho
De uma mãe com mãos
De aço,
Que a desliza nos seus corpos
Como que sentindo asco.

Há moças enclausuradas
Nas prisões de suas mentes

São mentes que brilham às vezes
Às vezes lembram demais
Às vezes gritam que mentem
Às vezes ainda sentem
Às vezes mentem
Não mais.

©leoniaoliveira

2 comentários:

jmsolano disse...

Belo texto...quem me dera o dom da poesia!...ñ tenho, mas tenho o de apreciar, já me basta...parabéns .

Fabiana Ratis disse...

Ariadne,
Ariadne,
Fiquei emocionada e, ao mesmo tempo, reflexiva pelas palavras postas e sobrepostas em "Comboio" -um labirinto de moças confusas, guerreiras e vítimas,num grito surdo. A sociedade assiste a tudo passivamente, como se não tivesse o que fazer para barrar o mal diante de seus olhos? Abriu-se uma fenda em meu coração.