sexta-feira, 27 de setembro de 2013

O SENHOR DAS TERRAS DE ARTEMIS


SENHOR DAS TERRAS DE ÁRTEMIS

Na pedra continente
Sobre o mar da ilha
Ele está.
Observo e penso, fotografo o homem em seu mar.

Até então era apenas
O homem em seu mar.

Estou caminhando léguas
Na Beira Mar
Esperando o horário do barco sul
E queria mesmo encontrar uma pedra como
A do homem em seu mar.

Pessoas dividem rochedos
E é muito fácil sentar-se ao lado delas
Mas, logo a mim parece,
Que aquela pedra pertence àquele homem,
Seja dele desde sempre
Ou apenas naquele momento.

Impossível não me dirigir a ela
E, sentindo-me uma invasora que bate na porta,
Pergunto ao moço
Se eu o posso incomodar
Entrando em sua pedra, em seu mar.

Dá-me um sorriso luzidio,
Vem à borda da pedra e me faz a cortesia
De não me deixar molhar os pés
Para entrar em sua casa.

É negro, um jovem negro
E possui um farnel de livros.
Digo que o fotografei
E dei à foto o nome: “O Homem em seu mar”
Que desde longe me pareceu linda
A composição dele ébano e o azul marinho
E a certeza de que todo o mar era só dele.

Ele ri. Ele é muito simpático

Diz-me seu nome
E pergunta o meu.
Pára. Olha para mim e diz que já me leu.

Então me pergunta o que são neologismos
E chamo os rochedos de pedrikix
E falo de Guimarães Rosa
De quem ele não ouvira falar,
Mas me promete que lerá.
Falo com ele sobre Neruda
E ele não conhece Neruda
E diz que não tem vontade de conhecer,
Que prefere ler os autores brasileiros.

Vê a foto que lhe fiz, todas as fotos que andei fazendo
E lhe revelo que no outro dia
Em outro barco
Irei fotografar golfinhos.

Ele me conta que luta judô,
Que seu pai foi um grande mestre em judô
E tira fotos minhas
Agora como se eu fora a mulher sobre seu mar.

Vejo seus olhos com luzes
Misturada à água e lhe digo o signo.
Escorpião.
Eu o já li.

Ele é um rei e tem uma mágoa.
É um rei ébano sobre o mar.
Toma-me, pois, como uma sacerdotisa
Que lhe pudesse revelar
Como a cura deveria ser administrada,
Mas não de pronto, não a ponto
De me perguntar.

Vejo que ele sofre de algum sortilégio de amor,
De alguém que não lhe nota a realeza
Nem a doçura
Ou a gentileza.
Mal sabe ele que naquela ilha passeio
Pelo mesmo motivo
Naquele início de janeiro.

A única diferença entre nós
É que ele já fora apunhalado
E eu sabia que o seria.

Creio que ficamos íntimos,
Pois ficamos próximos,
Na pedra continente no mar da ilha,
Em silêncio.
Então eu me levanto e digo
Que o vou deixar como o encontrei:
O homem na pedra sobre o mar.

Ele sorri, ele sempre sorri
Como um grande guerreiro,
A maré subiu e ele passa a terra
Para me fazer passar.

Falamos ainda algo muito rápido
Sobre neologismos e quando me despeço
Pergunto-lhe: como se chama este seu país?
Fica sem jeito por possuir um país
E não lhe saber o nome
Ou por eu descobrir que ele possui
Um continente e não o quer nomear.

Qualquer nome, eu digo, um neologismo.
E ele me diz: Terra de Ártemis.
Ártemis?
Sim, Ártemis.
Ártemis... viajo na minha personagem Artemix...
- Nunca nada foi por acaso mesmo, muito menos sobre o mar -

Ártemis, assim mesmo, proparoxítono.
Ele é proparoxítono
Imenso
E não se cuida disto.
Sorrio e agradeço a estadia
Que me deu o Senhor das Terras de Ártemis.

Diz-me que em seu país posso voltar sempre.
Quem sabe um dia eu volte
E encontre o Senhor das Terras de Ártemis
Cuidando de seu continente sobre o mar
E possamos nos lembrar do dia
Em que nossas mágoas se encontraram
E acalentamos um ao outro
Por algum desígnio grego.

Copyright © 2013 Leonia Oliveira
ISBN: 1482629429

ISBN-13: 978-1482629422


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