O SENHOR DAS TERRAS DE ÁRTEMIS
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Sobre o mar da
ilha
Ele está.
Observo e penso,
fotografo o homem em seu mar.
Até então era
apenas
O homem em seu
mar.
Estou caminhando
léguas
Na Beira Mar
Esperando o
horário do barco sul
E queria mesmo encontrar
uma pedra como
A do homem em
seu mar.
Pessoas dividem
rochedos
E é muito fácil
sentar-se ao lado delas
Mas, logo a mim
parece,
Que aquela pedra
pertence àquele homem,
Seja dele desde
sempre
Ou apenas
naquele momento.
Impossível não
me dirigir a ela
E, sentindo-me
uma invasora que bate na porta,
Pergunto ao moço
Se eu o posso
incomodar
Entrando em sua
pedra, em seu mar.
Dá-me um sorriso
luzidio,
Vem à borda da
pedra e me faz a cortesia
De não me deixar
molhar os pés
Para entrar em
sua casa.
É negro, um
jovem negro
E possui um
farnel de livros.
Digo que o
fotografei
E dei à foto o
nome: “O Homem em seu mar”
Que desde longe
me pareceu linda
A composição
dele ébano e o azul marinho
E a certeza de
que todo o mar era só dele.
Ele ri. Ele é
muito simpático
Diz-me seu nome
E pergunta o
meu.
Pára. Olha para
mim e diz que já me leu.
Então me
pergunta o que são neologismos
E chamo os
rochedos de pedrikix
E falo de
Guimarães Rosa
De quem ele não
ouvira falar,
Mas me promete
que lerá.
Falo com ele
sobre Neruda
E ele não
conhece Neruda
E diz que não
tem vontade de conhecer,
Que prefere ler
os autores brasileiros.
Vê a foto que
lhe fiz, todas as fotos que andei fazendo
E lhe revelo que
no outro dia
Em outro barco
Irei fotografar
golfinhos.
Ele me conta que
luta judô,
Que seu pai foi
um grande mestre em judô
E tira fotos
minhas
Agora como se eu
fora a mulher sobre seu mar.
Vejo seus olhos
com luzes
Misturada à água
e lhe digo o signo.
Escorpião.
Eu o já li.
Ele é um rei e
tem uma mágoa.
É um rei ébano
sobre o mar.
Toma-me, pois,
como uma sacerdotisa
Que lhe pudesse
revelar
Como a cura
deveria ser administrada,
Mas não de
pronto, não a ponto
De me perguntar.
Vejo que ele
sofre de algum sortilégio de amor,
De alguém que
não lhe nota a realeza
Nem a doçura
Ou a gentileza.
Mal sabe ele que
naquela ilha passeio
Pelo mesmo
motivo
Naquele início
de janeiro.
A única
diferença entre nós
É que ele já
fora apunhalado
E eu sabia que o
seria.
Creio que
ficamos íntimos,
Pois ficamos
próximos,
Na pedra
continente no mar da ilha,
Em silêncio.
Então eu me
levanto e digo
Que o vou deixar
como o encontrei:
O homem na pedra
sobre o mar.
Ele sorri, ele
sempre sorri
Como um grande
guerreiro,
A maré subiu e
ele passa a terra
Para me fazer
passar.
Falamos ainda
algo muito rápido
Sobre
neologismos e quando me despeço
Pergunto-lhe:
como se chama este seu país?
Fica sem jeito
por possuir um país
E não lhe saber
o nome
Ou por eu
descobrir que ele possui
Um continente e
não o quer nomear.
Qualquer nome,
eu digo, um neologismo.
E ele me diz:
Terra de Ártemis.
Ártemis?
Sim, Ártemis.
Ártemis... viajo
na minha personagem Artemix...
- Nunca nada foi
por acaso mesmo, muito menos sobre o mar -
Ártemis, assim
mesmo, proparoxítono.
Ele é
proparoxítono
Imenso
E não se cuida
disto.
Sorrio e
agradeço a estadia
Que me deu o
Senhor das Terras de Ártemis.
Diz-me que em
seu país posso voltar sempre.
Quem sabe um dia
eu volte
E encontre o
Senhor das Terras de Ártemis
Cuidando de seu
continente sobre o mar
E possamos nos
lembrar do dia
Em que nossas
mágoas se encontraram
E acalentamos um
ao outro
Por algum
desígnio grego.
Copyright © 2013 Leonia Oliveira
ISBN: 1482629429
ISBN-13: 978-1482629422
All rights reserved (in Trigo) Made in USA. Charleston, SC
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