domingo, 12 de janeiro de 2014

ARROZ


Eu sou o arroz
E sirvo humildemente,
Não me importa quantos eu alimente ou não.
Eu sou o arroz
E tenho a filosofia do oriente
Não me importa se sou não sou o mais nobre grão.
Talvez porque quem me cultive
Evite até falar alto por entre os arrozais
Em respeito ao meu espírito,
Talvez porque quem me cultive
Deseje ser enterrado em meu meio,
Talvez por isso
Eu não me importe com o valor que me dão.

Pois me dão.

Eu sou o arroz
E todas as minhas espécies sabem
De onde vieram e para onde vão,
Por isso canto uma canção de brisa
E amo a água que me irriga.

Eu sou o arroz
E já estive entre canções de briga,
Vi que a vingança não pode
Construir
Nem destruir,
Pode apenas acabar com uma plantação.

Eu sou o arroz e canto uma canção antiga
Bem uns 15 mil anos têm minha canção.
Não me opus a deixar de ser selvagem,
Quando afundado nos charcos
Vi que recebia carinho, gostei.
Quando plantado em tufos
Achei muito bom
Manterem os amigos unidos
E não semeá-los como grão.

Eu sou o arroz
E canto uma canção humilde,
A canção de um camponês,
O mesmo que me dá ao filho recém-nascido,
O mesmo que me joga sobre os recém-casados.

De fato, eu tive mais sorte que
O trigo
Eu tive mais honrarias
Que o milho
Eu sou o arroz e canto esta canção:
Viemos todos nós no mesmo embarque,
Todos nós, os grãos,
Com todas as outras espécies
E sortimento de afeição
Fomos espalhados para alimentar
E para ensinar
O compartilhamento.
Não viemos para criar represas
Ou nos fazermos diferentes.

Eu sou o arroz
E canto uma canção de amor,
Mesmo moído no pilão,
Sovado sobre o solo,
Eu canto esta canção.
Eu amo como a véspera
Ama o dia
E trans borda com a mudança das horas.
Eu sou o arroz e esta é minha canção.

Não há nada mais lindo
Do que ter o coração livre de magos.
Tudo que está livre pode ser preenchido
Então posso transbordar de amor,
Pois este não toma espaço.
Ao contrário, abre o espaço de nova plantação.
Eu e meus plantados cantamos a mesma canção,
Eles também são grãos.

Não tenho lições para ensinar
A não ser falar do que sempre vi
E se isto for alguma lição
Que sirva de exemplo
Aos cantadores
Que encantam a colheita enquanto cantam.

Porque não desejo de modo algum modificar-me
Ter-me em veneno
Ou me destruir a plantação.

Eu sou o arroz que canta esta canção de agradecimento
Agradeço ao Criador por não servir para fazer nem
Cerveja ou pão.
Mas, se de mim fizerem isto,
Agradeço por me darem esta instrução.

Eu sou o arroz
E minha canção é muito quieta
Quase se pode dizer que nem é canção.
Sou quase monossilábico,
Não brado, não lato, nem respingo.
Sou de várzea, de charco, de grande plantação.
Em qualquer um deles
Nunca me esqueço
Que sou o arroz,
Que vim para servir aos que padecem,
Aos que não se aquecem
Nem com vinho nem com pão.

Eu sou o arroz
E canto como um grão.


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