segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

LADRÕES DE ESTAÇÕES


Vejo em mim
Que minha estação
É lua cheia,
Não estou em época de plantio.
Em novembro havia em mim
Tanta primavera
E eram ricos os mananciais.
Por que deixei se aproximarem de minhas flores
Os galhos secos  despidos de flores
E que, até então,
Só conheciam da água o visgo violento
Das curvas dos rios?

Vejo em mim
Que queimei o verão
Em praias que eu sabia serem duvidosas
E, mesmo assim – por que não? –
Eu lhes garanti o sol e o sustento
E a possibilidade de terem turistas
Por todo um verão.
Em dezembro se fez o outono
Rico em seiva
E alimentei
Os galhos secos que não podem
Se erguer mais,
Que não podem sofrer
Uma transfusão de seiva,
Que nunca souberam o que é seiva,
Mas que ávidos beberam
Da seiva farta
Do meu seio farto e doce,
Como vampiros que bebem o sangue de menarcas
Sabendo nunca saciarem suas sedes
E que suas asas podres só voam
Por conta do sangue alheio.

Quando amanheci
Na lua nova,
Já é inverno:
Encho minha banheira feita de sal
Com água quente
Para aquecer meu útero,
E me sentir de novo em útero seguro.
Recupero a energia
Que a ti mantinha
E que agora não tens mais.
Quando, na crescente, o primeiro galho rachar
Tu saberás o que é
Não poder contar com a minha primavera.
Torno a ver-te em uma hospedaria mísera
Sem sangue e sem sal,
Foto indistinta de uma luz amarelada...

Não é meu inverno época de plantio,
Mas de retomada.
Não me fazem falta as estações puladas,
Delas sinto apenas o ardor confuso
Causado pela diferença dos fusos horários
Que o sol estabelece entre as estações.
Nunca me farão falta estas estações,
Só as pude dar porque era o que havia em meu coração.
Dele, também, tiro as fibras para a roupa deste inverno de fevereiro
Coso as veias do sangue que se doava
Para curar tua leucemia emocional,
Fecho meu campo magnético
Que fluía para tentar fechar
As chagas do teu desespero.

Vejo em mim que
Eu sabia que tratava com corsários,
Mas não sabia que havia ladrões de estações.

©leoniaoliveira (all rights reserved in TRIGO)

4 comentários:

Gercino Azevedo disse...

Ótima leitura!!!

Unknown disse...

muito bom seu texto , parabems doce e delicado gostei .

O ESCOLHIDO disse...

MUITA SAPIÊNCIA PARA MINHA GRANDE IGNORÂNCIA; QUE GRITA DENTRO DE MIM COM PUJANÇA; E CAUSA EM MIM E TI UMA GRANDE DISTÂNCIA; ANTI AO VASTO EXÍMIO CONHECIMENTO; FICO ACUADO EM MEU CANTO BEM RESERVADO; ATÉ QUASE CALADO. ADMIRADO; EXTASIADO; ANTE TAMANHA SABEDORIA; DESTA GRANDE E SEM IGUAL POETISA! DEUS TE ABENÇOE; AGRACIADA; E QUEIRA DEUS ME SEJA CONCEDIDO TAMANHA INTELIGÊNCIA; PARA ESCREVER COM TANTA ELOQUÊNCIA!
DEUS TE ABENÇOE!

Marcos Leonidio disse...

Beleza, profundidade, sensibilidade, reflexão poética que causa prazer e renova-se a cada nova linha. Muito boa. Parabéns.